Há algum tempo
atrás eu vivia de ensaios, não era vida que eu tinha, não era o meu presente
que estava ali e vivo, eram falas nas quais eu ensaiava todos os dias e
esperava ansiosamente o dia da estreia, o dia de subir no palco e realmente
realizar tudo o que estava mentalizando por
meses. Era angustiante. Era viver algo
que não era meu, era ser sempre sonho e nunca ser realidade, não que sonhar
seja ruim, mas eu sentia falta da realidade, sentia falta do que poderia ser
palpável e concreto. Cansava repedir as falas, me cansava ser não sendo o que
era e sim o que pensava que poderia ser.
E aí depois de
tanto viver, depois de tanto acordar cedo, lavar o rosto, tomar banho, colocar
o guarda roupa no chão, pegar ônibus lotado e tentar me portar como gente, a
sensação voltou. A velha sensação de não estar presente veio me acompanhar. Aí
depois de colocar a música no último volume, depois de muitos goles, depois de
muitas risadas e depois de muito tropeçar no salto alto, a sensação surgiu aqui
diante de mim. E não é um o-que-eu-tô-fazendo-da-minha-vida é um eu-tô-vivendo?
Eu tenho um medo de só planejar, eu tenho um medo de planejar. Por mim eu
realizava tudo aqui e agora só pra não correr o risco de ser só desejo, fazia
aqui na sua frente só pra não ter que esquecer tudo lá na frente, por mim eu
fazia acontecer agorinha só pra não ouvir um eu-te-avisei ou um
agora-é-começar-de-novo, um a-vida-é-assim.
Não quero essa
pressa, esse controle remoto com botões de FF e nem quero pular cenas. Adiantar
me faz perder a chance de querer, fechar meus olhos para o que estou vivendo me
deixa cega para as escolhas e pro meu questionamento. E o que será de mim sem o
meu questionamento, seu o meu mundo de e
se. Que eu possa ter o gosto da dúvida, o gosto do tropeço, do acerto, o
orgulho do passado. “Cem gramas, sem dramas” que do meu jeito, do jeito do
tempo, dará tudo certo.
Um comentário:
Lindo! Lindo! e profundo demais..
Obrigada por este presente hoje!
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