quinta-feira, 19 de junho de 2014

Não dizer



Ouvir aquela música doeu aqui, mas acho que aconteceu porque estou doída, ou será alguma mudança na lua? Talvez seja porque ontem acordei no meio da noite e o silêncio envolveu meus pensamentos de forma estranha, os ponteiros do relógio pareciam marchar e não simplesmente tictaquear. Batida forte que eu só pude ouvir através do silêncio. O silêncio que você faz.

Diz assim que eu sou uma cilada ambulante e eu vou incorporar qualquer erro, qualquer coisa, qualquer papo, qualquer chatice, porque eu sou difícil mesmo e digo sem querer dizer. Finjo ser brincadeira, finjo ser dor e acredito tanto. Confundo. Aí erro de novo. Incrível a capacidade de se calar. Sangue frio parece não correr aqui. E não é que eu faça assim tudo o que me dá na telha, até porque a telha já foi há muito tempo. Eu quero desejo e ser também.

Algumas coisas mudaram aqui ou vivem se aprontando para mudar, mas o sentimento é o mesmo. A gente sabe a necessidade de trocar alguns móveis de lugar e deslocar sentimentos pra lá e pra cá, só que tem coisa que por mais que se mude, permanece alguma marca, uma sombra, a poeira, fica a parede desgastada. Tentaremos passar uma tinta por cima, talvez resolva.


Pensava que meu estrago fosse consequência do meu fazer, mas na verdade pertence ao contrário. É causa da minha indecisão e não dizer. 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Por uma direção




Meu horário de trabalho termina às seis horas da tarde (ou noite?). Eu saio voando para o elevador – que tem dia que faz hora com a minha cara e demora demora – e dou boa noite para o Reginaldo, o porteiro que sempre me deseja bom descanso. Ando uns quinze minutos até a estação de metrô, onde todo mundo anda muito rápido e se empurra para conseguir chegar em casa. O espaço é pequeno e eu também, seguro a mochila na mão e quem está ao meu redor consegue me apoiar para que eu não caia, afinal, espaço para segurar é artigo de luxo no metrô das seis, só perdendo para quem tem a sorte de ir sentado.

Por sorte (?) desço duas estações depois, mas ainda assim, fico preocupada com a minha respiração, a falta de ar e a quantidade de gente colada uma na outra. Penso como quem precisa descer vai fazer para chegar até a porta e como quem está tão cansado quanto eu vai fazer para conseguir entrar, mas não consigo me acostumar com a situação. Ainda sinto um desanimo enorme ao pensar em enfrentar ao metrô. Parece que não faz sentido, tem dia que nada parecer ter sentido algum. Esse desespero, essa pressa, essa falta de espaço: dá vontade de jogar tudo para o alto.

Tenho me questionado o que vale e o que não vale rugas de preocupação ou espaço na minha vida. Penso o que faz diferença, penso o que me acrescenta, o que presta e o que já passou da validade. Quero voltar a minha atenção para quem me quer bem. Não quero mais essas desconfianças, fofocas ou dores de cabeça. Eu não importo de pegar o metrô lotado se existir alguém que compreenderá quando eu chegar em casa o quanto estou cansada,  que possa me perguntar como foi o meu dia e que a gente possa trocar informações sobre a correria do nosso dia a dia. O que eu quero é um abraço depois de um banho quente.

É que meu analista disse que eu não preciso me culpar tanto e minha melhor amiga disse que eu não sei me perdoar. Há quem diga que eu precise me posicionar, e eu realmente gostaria de saber se é mais para a direita ou esquerda porque assim eu estou ficando tonta. E eu acho do fundo do meu coração que todos vocês tem toda a razão, o que eu não sei é o que devo fazer. Pelo menos no metrô eu simplesmente sou empurrada para dentro, sem falar, mal conseguindo respirar e quando preciso sair, eu peço licença educadamente. Dessa vez eu não sei sair educadamente, eu apenas faria escândalos. Pergunto a opinião de quem está por perto, peço o olhar de alguém que pareça ser um pouco sensato, seguro a mão de quem amo e ouço conversa de quem não preciso. Eu tento escutar atrás da porta e olhar pelo buraco da fechadura.


sexta-feira, 12 de julho de 2013

Contrário






"Sente o perfume de uma flor no lixo e fuxica"

Já li muitas vezes por aí que a gente não para de se conhecer e muitas vezes eu tentei colocar em letras exatas o que sou. Disse com firmeza e certo narcisismo, disse olhando para mim em momentos de cegueira em relação aos outros e disse totalmente autoritária o que eu era e o que eu não era, apontando desenfreadamente os erros dos outros, que nasceram aqui no meu umbigo – que nasceram no umbigo do meu coração e criaram raízes dentro de mim, e que por favor, precisam ser cortadas ou retiradas a força. Antes que eu me machuque mais ou machuque mais alguém.

Eu gostaria de engolir certas palavras e sentimentos que insistem em partir e fazer buracos por aí. Eu deveria aprender a guardar certas coisas que se passam na minha cabeça, sinto que se eu guardasse por mais tempo eu poderia elaborar mais o sentimento que quer escapulir e me deixar um bocado mais fraca. Eu perco a chance de ficar calada, eu perco a chance de segurar e ser mais segura. Não, não quero segurar ninguém e nem a mim, quero ser segura e não seguradora. Eu quero dar a chance de liberdade sem ter que me prender ou enlouquecer por fingir ser livre. Eu não sei lidar com a liberdade e faço bagunça, faço baderna, faço vandalismo com o sentimento de quem mais amo. Há no mundo quem queira ser vândalo e salvar, e exceder o que está moralmente aceito e quem sou eu pra dizer 'não vá e fique aqui comigo olhando o que acontece porque eu sou medrosa'. Vandalismo cometo eu ao me calar. Acabo ferindo a mim e a quem sabe viver a liberdade de amar a si, amar o próximo, amar a mim.

Nesses meus dizeres desenfreados eu pensava que entendia de amor. Entendi que não sei de amor e nem sei fingir que dele sei. Meus princípios estavam errados ou no mínimo eu não soube conviver com a realidade deles e meti os pés pelas mãos, fazendo tudo ao contrário, sendo tudo o que eu sempre critiquei, fazendo as coisas que sempre torci o nariz. Eu me esqueço que "o amor na prática é sempre ao contrário". Descobri que eu sou ótima para entender meus erros, principalmente depois de cometê-los, sei até explicá-los, assim do meu modo torto e agindo de modo mais torto ainda. Você não imagina o meu susto quando percebi que não sabia o que era o amor, você não viu a minha cara de babaca e a culpa que se instalou aqui. A minha vontade é de chorar toda a porcentagem de água que existe em mim, a vontade é de secar tudo, acabar em lágrimas e quem sabe conseguir preencher-me novamente com água da boa, água que entende de amor.


Talvez daqui algum tempo eu saiba até falar sobre segurança. Talvez eu saiba escrever sobre liberdade, talvez eu pare de falar sobre o amor – eu deveria. É que eu ando errando tão feio, eu ando errando tanto. Eu tenho acordado com vergonha dos machucados que consegui por aí. Venho exigindo dos outros coisas que nem eu mesma tenho, eu ando limitando o meu nós. Meus artigos de luxo devem ser reconsiderados porque eu tenho exagerado o que não se deve exagerar, eu tenho beirado o delírio. Vou torcer para que eu aprenda mais sobre mim e sobre amar. Vou desejar agora que eu ame, com todas as bondades do amor. 





Ai Cazuza, me ensina.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O que você não quis saber





Eu tenho os meus conceitos já formados em meu pequeno e bagunçado mundo e você deve ter nesses bolsos furados os seus. Trancamos nossas portas, você vive pra lá e eu vivo pra cá, continuo viva e você também. Eu sei da existência dos milhares de julgamentos e preconceitos estúpidos que insistem em apontar na minha cara redonda o dedo indicador, como quem diz com prioridade: Comigo o buraco é mais embaixo. E eu percebi que seu buraco é mesmo mais embaixo, é na barriga, no umbigo, no centro do seu mundo.

Eu gostaria que você compreendesse mais o que aconteceu comigo. Eu sei que em muitas vezes você me deu a mão e eu até pedi os dois pés para poder me apoiar, sei o quanto éramos cúmplices e as risadas foram as mais sinceras possíveis, mas será que agora você poderia parar de me encarar com esses olhos de gato pronto para dar um pulo? Você poderia me olhar de humana para humana, que comete erros e comete mais um para completar a burrice? Não acho que errei quando tomei minha decisão e não quero que passe a mão na minha cabeça ou diga que a culpa foi toda sua. O que eu quero é amizade, entende? Acho que não fizemos nada melhor do que isso. Não que eu queira negligenciar meus atos, mas com certeza eu gostaria de esquecer o momento em que lhe dei as costas.

As coisas começaram para mim de maneira conturbada, eu sei você nem quis saber. É de se ficar com um pé atrás quando alguns dizem para abrir os olhos, eu me assusto penso duas, três, quatro vezes e tenho medo. Armada e cheia de dúvidas. Acontece que eu até tenho uma sorte muito da estranha e havia alguém comigo, mais do que um anjo da guarda. E desta vez eu quis correr os riscos, eu quis seguir em frente mesmo com todas as torcidas para que desse errado. Vai ver meu santo é mais forte. Tudo isso para ser (mais) feliz – e eu estou.

Talvez seja só isso: a felicidade incomoda. Não apenas a mim, mas aos outros também. Dá câimbra no coração, nas mãos, nos pés, nos olhos. Vive com a alma cheia e sorriso na cara, mas nas horas vagas procura a auto sabotagem a fim de estragar algo e depois dizer que a vida é assim mesmo. 

terça-feira, 14 de maio de 2013

Mentira




Tenho pavor de mentira, tenho pavor que alguém minta para mim. Tenho medo de entregar meu coração, meus sentimentos, minhas verdades e receber mentira em troca. Eu sei, a gente se engana sem querer, mas só enganamos os outros por querer. A confusão existe, o eu não sei também, então diga, diga a verdade dolorosa do não saber, na dúvida, do não saber o que fazer. Às vezes a incerteza dói mais que a mentira, mas me deixa preferir a verdade, me deixa preferir a clareza, os olhos abertos, a sensação de estar dentro da sua vida mesmo existindo a dúvida. Que bonito seria a sua verdade, que alívio seria a minha confiança. O que os olhos não podem ver o coração sente ou consente.  O coração palpita, se assusta, perturba e crimes perfeitos também deixam suspeitos.  Não me faça de cúmplice, não me faça de vítima.

Aviso

As imagens usadas neste blog são retiradas do nosso amigo Google. Caso seja uma imagem sua, peço que me comunique, assim, colocarei os direitos. Obrigada. Peço sua compreensão.